College Football 2014: Week 14 Review

Paulo Pereira 1 de Dezembro de 2014 Análise Jogos College Comments
Alabama-Auburn

College Football 2014: Week 14 Review

Cai o pano sobre a edição de 2014 do college football. Não. Não é ainda o fim, mas apenas a passagem de testemunho. Acabou-se a época regular e, agora, chega a festa. Finais de divisão, apuramento para os playoffs e as bowls, essa verdadeira tradição no mundo universitário. Este fim-de-semana, que se estendeu desde o Thanksgiving Day, foi quase inteiramente dedicado à rivalidade. Apropriadamente, o último dia do calendário da temporada é denominado de rivalry week. É lá que, muitas vezes, se encontra o sentido de uma época. É por ela que os fãs mais obstinados suspiram, desejando que o tempo voe. Não há sentimento mais virulento que o ódio ou o desejo de vingança. Somos corroídos internamente, forçando à produção massiva de bílis. Não é exagero transportar essas sensações para o mundo do desporto, onde se terçam armas com inimigos figadais. Neste fim-de-semana disputou-se o The Game. Assim mesmo, apelidado como se todos os outros fossem irrelevantes, perante a dimensão e grandeza do encontro anual entre Ohio State e Michigan. Mas há outros jogos que disputam a atenção mediática e reivindicam o seu quinhão de atenção. O que se pode dizer do Iron Bowl, braço-de-ferro anual entre Alabama e Auburn, numa daqueles antagonismos quase bélicos? Que é um jogo imperdível, apenas isso. Numa jornada de enormes emoções, vários destaques. Alabama venceu Auburn, mantendo-se como merecido nº1. Florida State ganhou como quase sempre, este ano: com enormes dificuldades, num resultado apertado. Mississipi State foi derrotada pelo eterno rival Ole Miss, baralhando profundamente as contas dos 4 primeiros. Quem ficará lá? Alabama e Florida State parecem assegurados. Oregon idem aspas, depois de nova demonstração de força perante Oregon State. Mas, quem será o 4º finalista? O comité manterá a aposta em Mississipi, ou promoverá outra equipa com apenas uma derrota? Existem várias, que têm percursos quase imaculados, merecedoras de crédito. Quem? Ohio State, TCU e Baylor. Veremos o que é decidido, durante a semana.

O Jogo da Semana

Auburn, 44 @ Alabama, 55

UAU. Que maneira de disputar um clássico. Um verdadeiro shootout, repleto de emoção, erros e grandes jogadas. Alabama venceu, vingando a derrota inacreditável do ano anterior. Fê-lo provando que tem algo merecedor de crédito: um enorme coração, transbordante de resiliência. Como em vários jogos ao longo do ano, Alabama sobreviveu a uma mão cheia de erros, recuperando animicamente e triunfando. Mesmo com Blake Sims a lançar 3 INTs, perdendo por 11 pontos no 3º período, a equipa de Nick Saban soube encontrar um caminho para a recuperação. Não é uma daquelas equipas dos Crimson Tide a que nos habituamos, sem falhas. Esta é feita de material diferente. Cede 44 pontos em casa e 630 jardas…mas ganha. Curiosamente, o crédito maior tem que ser dado…à defesa. Essa mesmo. A que cedeu jardas e permitiu grandes jogadas a Nick Marshall e Sammie Coates. Quando o jogo estava equilibrado, podendo cair para qualquer lado, foram capazes de parar o ataque adversário. Não uma. Nem duas. Mas três vezes consecutivas, na red zone, impedindo touchdowns que fariam perigar a vitória. Num encontro repleto de protagonistas, existiu um que sobressaiu, entre os demais. Chama-se Amari Cooper e é quase unanimemente apontado como o melhor receiver da prova. Foi espantoso. Podem perceber o porquê no “wide receiver da semana”.

Arkansas, 14 @ Missouri, 21

Por momentos ainda sonhei. Sim, tenho uma predilecção por Georgia e este encontro era crucial para encontrar um dos finalistas da SEC. Missouri, se vencesse, estava lá, pelo 2º ano consecutivo. Conseguiu esse desiderato, o que tem que ser amplamente elogiado. Mizzou, neófita na conferência, disputando apenas o seu 3º ano perante as potências reconhecidas como as mais fortes, nacionalmente, mostrou ser um adversário competitivo, que eleva ainda mais o nível existente na divisão. Mas foi um triunfo sofrido, perante uma sólida equipa de Arkansas, cada vez mais coesa defensivamente. Bret Bielema, o head coach, tem sabido aumentar a qualidade no grupo, que aparecia nesta partida reforçada animicamente, depois de duas vitórias concludentes contra LSU e Ole Miss. Ao intervalo, o 14-6 favorável aos visitantes colocava isso mesmo em evidência. Arkansas poderá ser uma força emergente na SEC, em 2015. Mas Missouri, impulsionada pelo público, reagiu na 2ª parte. À boa moda da SEC. Numa drive excelente, suportada pelo jogo corrido (boas prestações de Russell Hansbrough e Marcus Murphy), Mizzou passou para a frente. Definitivamente. O destaque principal vai para o conjunto, onde escasseiam as grandes estrelas. A OL tem sido preciosa, mantendo a equipa na corrida, ao longo da dura temporada, e Markus Golden voltou a colocar o cunho da defesa em mais um triunfo. O defensive lineman é uma força destrutiva no front 4, parrando o jogo corrido do adversário e criando o caos, com a sua disrupção. Agora, é prepararam-se para o grande embate. Venha de lá Alabama…

Arizona State, 35 @ Arizona, 42

Já não bastava a semana da rivalidade. Para apimentar ainda mais o confronto, ambas as equipas apareciam com um recorde idêntico (9-2) e bastante bem classificadas no ranking nacional (Arizona State em 13º e Arizona em 11º). O triunfo dos Wildcats, aliado à derrota de UCLA, levou a universidade a vencer a zona sul da PAC-12, marcando encontro na final de conferência com Oregon. E, com isso, tudo fica baralhado nas projecções futuras para os playoffs. Oregon está solidamente instalada nos 4 primeiros. Facto. Mas perdeu um jogo. Contra quem? Pois. Esta mesmo Arizona. A universidade que já os tinha batido, no ano passado. Se a tendência recente se mantiver, e os Wildcats vencerem a final de conferência, o que fará o comité que designa os 4 finalistas? Mas isso é um problema que poderá surgir. Para já, Arizona fez o que lhe competia, vencendo um embate tremendo, repleto de big plays, de parte a parte. Com o marcador sistematicamente a oscilar, para um e outro lado, foi apenas no 4º período que ganhou forma o triunfo. Anu Solomon (grande temporada do quarterback freshman de Arizona) enviou uma bomba para Samajie Grant marcar o TD que se revelou instrumental. Destaque final para dois nomes. Nick Wilson, running back rookie, é já um caso sério de popularidade. Merecida. Mais 178 jardas e 3 TDs. Mas nem só no ataque se contribuiu para a vitória. Scooby Wright é um dos melhores linebackers da PAC-12 e voltou a demonstrar o porquê, numa partida em que esteve em todo o lado, chefiando a defesa. 13 tackles, 5 tackles for loss e 2 sacks dão bem a ideia da dimensão épica da sua exibição. O que é que se pode dizer mais? Que é com enorme ansiedade que se aguarda pelo embate entre Arizona e Oregon.

Michigan, 28 @ Ohio State, 42

É o The Game, sabem disso? Uma rivalidade quase ancestral entre dois dos melhores programas futebolísticos da nação. A edição de 2014 encontrou as duas universidades em lados opostos da barricada, com percursos totalmente distintos. Os Wolverines atravessam um dos seus piores momentos na última década, que levará à provável demissão de Brady Hoke do cargo de treinador. Ohio State ainda sonha com o título, no ano 2 da era de Urban Meyer. Com apenas 3 derrotas em 2 anos, os Buckeyes tentam reivindicar um estatuto que já foi seu, antes das pesadas sanções que se abateram sobre a universidade. Mas se alguém esperava um jogo desequilibrado, enganou-se. Os Wolverines, jogando pela honra e rivalidade subjacente, colocaram em campo o melhor jogo da época, levando os anfitriões ao limite. A estes valeu, como durante grande parte da temporada, o fresham sensação JT Barrett. O quarterback voltou a ser o principal rosto da reviravolta, punindo o adversário com o passe (13/21, 176 jardas e 1 TD) e com as pernas (15 corridas, 89 jardas e 2 scores, um deles numa belíssima e importante corrida de 25 jardas), numa temporada que merece reconhecimento por parte do Heisman Trophy. Extremamente produtivo, o quarterback saiu no entanto lesionado, privando a equipa da sua presença na final da BIG 10, na próxima semana. É um rude golpe para a turma de Urban Meyer, que tinha começado a temporada com uma lesão grave de Braxton Miller, podendo agora ter perdido novo QB. Destaques finais para Ezekiel Elliott, com um touchdown numa jogada de 4-and-1, e para o insuperável Joey Bosa, uma futura estrela na NFL, que teve um fumble provocado que dissipou as duvidas quanto ao vencedor do encontro.

O Quarterback da Semana

Senhoras. Senhores. Dêem as boas-vindas e uma calorosa salva de palmas ao vencedor do Heisman Trophy deste ano. Mr. Marcus Mariota. Pode não acontecer? Duvido. É prematuro afirmá-lo? Não. É apenas um pró-forma manter um suspense sobre o prémio, até à sua atribuição. Mariota é o mais empolgante jogador do college, actualmente. Ponto final e exclamação. É o Johnny Football de 2014, um jogador fenomenal que tem catapultado Oregon no ranking, uma deep-threat letal. Mais uma vez, no jogo denominado de Civil War, a rivalidade entre os Ducks e os Beavers só existiu na lenda. Dentro de campo, foi um massacre. Oregon saiu a carburar, marcando pontos em série e deixando o orgulho do rival ferido, ainda na primeira parte. Não foi uma exibição. Foi uma declaração para a nação. Oregon é candidata e pede meças a qualquer outra equipa. Mariota fez a sua magia habitual. 19 em 25, 367 jardas, 4 TDs e, no solo, mais do mesmo: 39 jardas e mais 2 scores. Agora só falta mais um degrau. A final da PAC 12, contra Arizona, que já os venceu esta temporada. Se os Ducks vencerem, estão automaticamente nos playoffs. E, sem preferencialismos, mas com um elementar sentido de justiça, Mariota merece esse prime-time.

Menção Honrosa da Semana 1

Cody Kessler, USC. Fez o jogo de uma vida, na partida contra Notre Dame. Sozinho, dilacerou a secundária contrária, explorando matchups favoráveis e colocando sempre a bola em óptima posição para os seus alvos. Praticamente perfeito no pocket, raramente incomodado pelo pass rush do adversário, totalizou o grosso dos snaps, lançando 40 vezes e acertando 32 passes. Foram 372 jardas e seis passes para touchdown.

Menção Honrosa da Semana 2

Que se lixem os grandes nomes, das universidades pomposas. O college é feito disto. De heróis desconhecidos, de jogadores que alcançam temporariamente o estatuto de eleitos, com os seus 15 minutos de fama, como profetizado por Andy Warhol. Brandon Doughty não sonhará com a NFL, como tantos outros que, findo o percurso universitário, se dedicam a profissões comuns, como cidadãos anónimos, olhando para o passado com alguma nostalgia. Mas o quarterback de Western Kentucky já tem uma história para contar, décadas mais tarde, aos seus netos. Como a do dia em que colocou um ponto final na invencibilidade de Marshall. Esta era, a par de Florida State, a única equipa ainda invicta e terminava a prova em casa, num jogo em que era francamente favorita. Western Kentucky aparecia com um recorde mediano de 6-4, com um 4-4 na conferência USA. Mas fez história, num encontro épico, com uma pontuação obscena (67-66), decidido num prolongamento. Foi um jogo de nervos, com as defesas ultrapassadas sistematicamente pelos ataques. Para o que importa, Doughty lançou 50 vezes, acertou 34 passes, para 491 jardas (média de 9.8 por jogada), lançando 8 touchdowns e com 2 INTs. Nesse esforço hercúleo, destaque para o último TD, no prolongamento, quando a sua equipa perdia por 7 e tinha apenas aquela posse de bola para se manter viva na partida. Uma bomba de 25 jardas, cirurgicamente colocada na end zone. E, depois, o momento audacioso, relembrado para sempre na história da universidade. Em vez do ponto extra, a decisão de tentarem o 2-point-conversion. E novamente a precisão de Doughty falou mais alto, silenciando o estádio e colocando as luzes da ribalta em si mesmo. Que exibição!

Menção Honrosa da Semana 3

Tenho um carinho especial por rookies desinibidos, capazes de aproveitarem a oportunidade, quando ela surge. Um dos nomes emergentes recentemente é o de Patrick Mahomes, que finalmente ganhou a posição de quarterback titular em Texas Tech. No jogo caseiro contra Baylor, o freshman foi impressionante no esforço, colocando um verdadeiro thriller no seu furioso comeback. Contra uma das equipas que ainda sonha em ser eleita para os playoffs, Mahomes liderou uma recuperação, quando Texas Tech perdia por 42-17. Foi um esforço assinalável, com 598 jardas e 6 touchdowns. Não deu para a vitória, quando a desesperada tentativa de conversão dos dois pontos (resultado em 48-46), fracassou devido a um sack. Mas Mahomes revitalizou o anémico ataque de Tech, deixando uma esperança num futuro melhor. Será um dos nomes a acompanhar em 2015.

O Wide Receiver da Semana

Amari Cooper, who else? Fenomenal no triunfo contra Auburn, o receiver de Alabama sobreviveu ao jogo irregular do seu quarterback, apanhando tudo o que foi lançado na sua direcção. Verdadeiro pesadelo para o adversário, conseguiu 13 recepções, 224 jardas e 3 touchdowns, dois dos quais foram inteiramente mérito seu, fugindo com a sua velocidade aos oponentes, em ganhos enormes de jardas.

Menção Honrosa da Semana

O épica embate entre Alabama e Auburn foi pincelado por momentos de magia, com a qualidade de vários jogadores a elevar a partida a um nível enorme. Sammie Coates foi a contraparte de Cooper, em Auburn. Tremendo na luta que manteve com a secundária de Bama, Coates não teve tanto trabalho como Cooper, mas maximizou todas as suas oportunidades. 5 recepções, 206 jardas e 2 scores, mantendo sempre Auburn na luta, até final.

O Running Back da Semana

A competição deste ano teve uma particularidade. O domínio do jogo corrido, com prestações espectaculares todas as semanas. Aos nomes consagrados, como Ameer Abdulah, Melvin Gordon, Tevin Coleman, James Conner, Devon Johnson ou Todd Gurley veio juntar-se um punhado de miúdos, vindos do high school, mas com uma personalidade e talento de verdadeiros veteranos. Alguns deles, como Samaje Perine, tomaram a competição de assalto, marcando a diferença e mostrando que, nos próximos anos teremos grandes nomes em processo acelerado de maturação. Se Perine é a coroa de glória quando se fala de rookies, por ter batido o recorde de jardas corridas num jogo, outros merecem a mesma atenção, pelo contributo que deram. Estão nessas condições Royce Freeman (Oregon), Jarvion Franklin (Western Michigan), Nick Chubb (Georgia), Justin Jackson (Northwestern), Leonard Fournette (LSU), Dalvin Cook (Florida State), Marlon Mack (South Florida) e Nick Wilson (Arizona). Este manteve a regularidade recente, fundamental no triunfo sobre Arizona State. 24 corridas, 178 jardas e 3 touchdowns, num triunfo por apenas 3 pontos, ajudam a explicar o hype em seu redor.

Sportsmanship da Semana

Devin Gardner conforta JT Barrett

Devin Gardner conforta JT Barrett depois de uma lesão grave
Foto de USA Today

Palavras para quê? A imagem diz tudo. Pode ser uma rivalidade com foros doentios. Pode-se cultivar ódio, quando se trata apenas dum mero jogo. Podem coexistir paixões exacerbadas. Mas, na dor, lesão ou infortúnio, não existem cores ou lados diferentes na barricada. JT Barrett, fenómeno de Ohio State saiu gravemente lesionado. Devin Gardner, quarterback de Michigan, encontrou no meio do antagonismo, tempo para confortar o seu adversário de ocasião. Standing ovation, por favor!

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.