Minnesota Vikings @ Carolina Panthers: Bullying em Cam Newton!
Sabem aquelas segundas-feiras em que, independentemente de termos à nossa espera, no trabalho uma secretária cheia de documentos para tratar, nos sentirmos constipados, com o muco a acasalar com os nossos brônquios de forma a tornar penoso qualquer movimento acentuado e, mesmo assim, acordarmos com um ENORME SORRISO NO ROSTO?
Yeap, that’s me! A vitória dos Vikings no terreno quase sagrado dos Panthers (a franquia de Carolina não perdia um jogo caseiro desde 2014) teve esse condão de me insuflar com uma dose generosa de felicidade, esperança…e alguma fanfarronice. Logo após o último field goal de Blair Walsh, que colocou o marcador no 22-10 final, exultei, de forma audível lá em casa, nos apartamentos vizinhos e, atrevo-me a dizer, do outro lado da rua, onde existe um café simpático, mas que só passa jogos de soccer. A minha explosão de alegria, reforçada com uma dança esquisita pela sala, perante o olhar atónito da minha esposa, serviu para libertar a tensão depois de 3 horas de intenso fervor, alguma angústia, muitas invectivas e sofrimento contínuo. GANHÁMOS, PORRA!
Mas, para ganhar, foi preciso recorrer à fórmula do costume. Qual, perguntam vocês? Não sei. É segredo. Mike Zimmer deve ter uma carta qualquer, escondida na manga, que transfigura a equipa na 2ª metade dos jogos. Foi assim em Tennessee. Foi assim frente aquela equipa esquisita de calças verdes e camisolas em tons de amarelo, que vivem confinados num território geográfico minúsculo e que joga na nossa divisão. E, agora, frente aos Panthers, la même chose (a mesma coisa, mas dita em francês, que o meu editor diz que dá um ar mais fino aos artigos). No pós-intervalo, a defesa aparece para jogar. Com sangue nos olhos e um instinto homicida que, se isto fosse uma série de televisão por episódios, iam todos para trás das grades no episódio 2. O discurso no balneário de Zimmer deve conter trechos épicos e um factor motivacional muito forte para levar a esta mudança comportamental. Até parece que estou a ver o veterano treinador, espicaçando os seus jogadores para jogarem melhor, enquanto aponta para Adrian Peterson, deixando o aviso: “se o homem espancou o filho com uma chibata por um motivo inócuo, imaginem o que vos fará, depois da vossa patética exibição”. É isto, não é? E funciona. O medo de levarem umas chicotadas de All Day fá-los jogar com uma agressividade incomum. Seja o que for, que continue assim…
A primeira parte dos Vikings não teve história. 34 jardas totais conquistadas. Are you kidding me? 34? O ataque não existiu. A OL, como habitual, pouco tempo deu a Sam Bradford para lançar, o jogo corrido não existia, pese os esforços titânicos de Jerick McKinnon que, magro como um etíope a correr a maratona, era obrigado a correr entre os tackles, forçando passagem perante mastodontes com o dobro do tamanho e o triplo do peso. Mas nem tudo foi mau. Não senhor. Aquilo que inicialmente ameaçava ser uma derrota por números pesados (1ª drive com algumas big plays, culminada num field goal e 2ª drive concluída por um touchdown corrido de Cam Newton), manteve-se assim, nos 10-0. Os Vikings não avançavam no terreno, mas o adversário também não, quase como se o jogo se tivesse transformado num braço de ferro entre dois lutadores com força similar. Até que veio o momento do jogo, aquele que me galvanizou lá em casa e, acredito, insuflou alguma alma na equipa. Jeff Locke, provavelmente o pior punter da NFL, conseguiu, com a preciosa colaboração de Marcus Sherels, meter um punt na linha de uma jarda dos Panthers, obrigando-os a iniciar nova drive enterrados na sua endzona. Danielle Hunter, um dos mais atléticos pass rushers da liga, tem um movimento delicioso e para ver, vezes sem conta, em slow motion. No momento do snap, ele atropela LITERALMENTE Michael Oher. Mas atropela MESMO. Braços esticados, no peito do adversário, e aquela montanha de carne adiposa caiu com estrépito no chão. Hunter, felino, saltou por cima dele, espetou com um stiff arm no guard que tentou sair-lhe ao caminho…e ZÁS. Cameron Newton no chão, vítima de um sack e um safety, dando 2 pontos aos Vikings. Começou a reacção. O resto, depois do explosivo retorno de Marcus Sherels a um punt, que nos deu o primeiro touchdown da partida, veio por acréscimo, como aquelas filas de dominós em que, tocando-se numa, o resto vai caindo em sequência. Vamos lá às notas…
1. Os Melhores de Purple & Gold
Everson Griffen, DE – Que força da natureza, meus senhores! Griffen pareceu combalido fisicamente na 1ª parte, tendo inclusive ficado na sideline alguns períodos de tempo, com uma aparente lesão não especificada. Mas no pós-intervalo, foi como se tivessem libertado a fera. Griffen foi omnipresente na DL, agressivo e punitivo, dando o mote para os restantes elementos da defesa. Foram 8 sacks no total, 3 deles de Griffen, que perseguiu, massacrou e castigou o MVP em título. Não temos Von Miller, mas que caraças, o Everson Griffen É o nosso Von Miller.
Marcus Sherels, PR – O marcador ao intervalo não demonstrava o quem se tinha passado no relvado. O 10-8, favorável aos Panthers, era demasiado lisonjeiro para os Vikings que, merce da referida jogada de Danielle Hunter e do punt retornado para touchdown, tinham mantido o jogo competitivo. Sherels foi instrumental, dando 6 pontos preciosos e ajudando ainda, no último período, a equipa como defensive back, colando-se como uma ostra a Greg Olsen num par de jogadas.
Adam Thielen, WR – O futebol americano seduz e encanta por jogadas onde o atleticismo dos jogadores é elevado a uma potência acima do comum dos mortais. Thielen é um jogador de quem é fácil gostar, tendo subido a pulso até ao roster principal. Teve uma recepção espantosa, com uma mão, em pleno voo, mostrando uma agilidade e controlo corporal notáveis. Esse highlight coroou uma exibição esforçada e participativa, como num lance em que o seu bloco num defensor permitiu um ganho considerável de jardas ao portador da bola.
Linval Joseph e Tom Johnson, DT – Com Sharriff Floyd novamente de baixa durante uma série de semanas, foi interessante ver que Johnson funcionou na perfeição, nos snaps que jogou, mantendo uma considerável compostura contra o jogo corrido dos Panthers. E o big guy conseguiu, de forma surpreendente, interceptar Cam Newton, numa história que contará aos netos, quando for mais velho, ao redor da lareira, nas noites frias de inverno. De Linval Joseph pouco mais haverá a dizer. O seu sack, brutal no impacto e na força despendida, como se fosse um comboio desgovernado, diz bem o que se pode esperar do veterano. É o pilar da DL, um temível run stopper, um jogador que não se intimida com a oposição, mesmo que esta lhe seja servida em dose dupla. Linval é a personificação do Viking dos tempos modernos.
Kyle Rudolph, TE – Eterna promessa, sucessivamente adiada, seja por questões físicas ou por ausência de um jogo de passe consistente, Rudolph nunca se assumiu como preponderante no ataque dos Vikings, desde que chegou do draft. Neste jogo, finalmente, deu para perceber a sua importância, dando contínuas linhas de passe a Sam Bradford que, com pouco tempo para lançar, viu ali a sua bóia de salvação. Foram 9 recepções para 70 jardas, a maioria no meio do campo, explorando uma zona difícil e perante pesada cobertura, e um touchdown excelente, na melhor drive do ataque.
Harrison Smith, S – É um dos meus jogadores predilectos e é uma tackling machine impressionante. Parece um relógio suíço, um daqueles pagos a peso de ouro numa loja de marca e não esses que vocês trazem no pulso, comprados por duas notas de 20 € ao cigano da esquina. Não falha tackles em open field, supervisiona toda a zona recuada do terreno, participa em blitzes e é uma verdadeira carraça para os adversários. É um hard hitter, um daqueles punitivos. E dá um gozo tremendo vê-lo jogar. Nota mental: próxima camisola dos Vikings com o nome e nº dele!
Trae Waynes e o corpo de cornerbacks – Not bad. Not bad at all. Waynes começa a criar o seu próprio espaço na equipa e, pela 2ª semana consecutiva, conseguiu uma INT. É um justo prémio para um miúdo à procura do reconhecimento e cuja carreira, nestes dois anos de NFL, tem sido feita de altos e baixos. Se contra os Packers interceptou Aaron Rodgers, para selar o resultado, agora pode gabar-se de ter conseguido o mesmo sobre Cam Newton, o MVP em título. Perfeito na cobertura, contou com o regresso de Xavier Rhodes (ALELUIA) e do veterano Terence Newman (igualmente perfeito na sua leitura de jogo, quando conseguiu a INT) para secar por completo Kelvin Benjamin, a principal ameaça do jogo aéreo dos Panthers. A estatística não mente: 0 recepções de Benjamin. ZERO. Jogo quase perfeito do grupo de cornerbacks.
2. Os Piores de Purple & Gold
Blair Walsh, K – Já não tenho paciência para os erros e falhas do kicker. Apetece abaná-lo pelos colarinhos, gritar-lhe para ser consistente ou, em último recurso, usá-lo como alvo da nossa frustração, sempre que desperdiça mais um field goal ou um ponto extra. Após o TD de Sherels, Blair falhou mais um ponto extra (está 50/50 na temporada), colocando-me à beira dum ataque de nervos. Qual é a dificuldade de acertar a pouco mais de 30 jardas dos postes? Não é para isso que ele treina intensamente? Mas, se for eu a ficar perto de um ataque de nervos, ele está bem. Mas quando é o treinador, é sinal de que a paciência –confiança – se está a esgotar. A melhor forma de analisar isso é ver a alteração de procedimentos. Início do 3º período. A melhor drive dos Vikings, fluída, percorrendo cerca de 80 jardas, até ao TD de Kyle Rudolph. O que faz Zimmer depois? Manda o ataque permanecer em campo e tentar a conversão de dois pontos. O que isto vos diz? Simples. Zimmer perdeu a fé no seu kicker. Se calhar Blair, vais ter que começar a procurar trabalho noutro lado qualquer.
A Linha Ofensiva – O cenário não era o mais favorável. Enfrentar a DL dos Panthers, onde pontifica Luke Kuechly, com uma OL que não apresentava sinais de melhoria, após 2015, e sem o left tackle Matt Kalil, perdido para a temporada, deixava qualquer um apreensivo. Após o jogo, o que se pode dizer é que os sentimentos são contraditórios. Correu bem, sobretudo no pass protection, com Bradford a sofrer apenas um sack, mas a linha ofensiva continuou a ser medíocre como run blockers, incapaz de abrir um buraquinho, por minúsculo que fosse. Alex Boone continua a decepcionar-me. Esperava bem mais dele, sobretudo no apoio ao jogo corrido, mas o ex-49er tarda em elevar o seu jogo. Brando Fusco fez um jogo miserável, enquanto Andre Smith, um velho conhecido de Zimmer contratado na offseason, vai coleccionando maus jogos como se isso lhe desse um bónus suplementar. Joe Berger, como center, e o recém-chegado à titularidade Jeremiah Sirles foram os melhores do grupo que, no entanto, tem mesmo que evoluir. Não se pode esperar que todos os jogos sejam resolvidos pela produção defensiva. A ausência de ameaça no jogo corrido vai levar os adversários a constantes blitzes, a uma pressão intensa na cobertura do passe, sem preocupações excessivas no solo. A ausência de Adrian Peterson tira da equação o factor medo que ele destila nas defesas contrárias e, a não ser que se invente uma forma de usar Jerick McKinnon, tê-lo a fazer de AP não funciona, simplesmente.
3. Nota Final
O próximo jogo é um daqueles que nos faz salivar. Pelo menos a mim, que adoro a NFC East e ver um Monday Night, no novo estádio, contra os Giants, é o melhor que me podem oferecer. Os blues de Nova Iorque aparecem em Mineapolis doridos depois da derrota caseira contra os inimigos figadais da capital, mas não se esperam facilidades por isso. O forte investimento feito na offseason ajudou a alavancar o pass rush, dando um novo companheiro a Jason Pierre-Paul. Olivier Vernon, um dos nomes emergentes na posição, juntamente com Damon Harrison, um defensive tackle resgatado aos vizinhos Jets, solidificaram a DL, onde Jonathan Casillas assume o papel de patrulheiro, na zona mais recuada. Na secundária, a chegada de Janoris Jenkins, um verdadeiro ball hawker, tem dado outra dimensão, com os Giants a capitalizarem nos turnovers. No ataque, o sistema de Ben McAdoo, o técnico que sucedeu a Coughlin, uma versão híbrida da west coast offense, limitou a exposição de Eli Manning, menos propenso a erros, com as big plays a surgirem por conta do esperado Odell Beckham, agora finalmente com a companhia de Victor Cruz e do até agora surpreendente Sterling Shepard. Os Giants são hoje um forte contendor aos playoffs, mas apresentam ainda falhas, como atesta o jogo corrido, que acabou de ficar sem Shane Vereen, muito modesto.