College Football 2014: Week 2 Review

Paulo Pereira 8 de Setembro de 2014 Artigos, College Comments
USC vs Stanford

College Football 2014: Week 2 Review

O hurry-up no-huddle está na moda. O conservadorismo no College está morto e enterrado. O ataque speedado, usado esporadicamente por equipas menos conceituadas, está agora disseminado, utilizado regularmente pelas grandes potências, que adequam a característica do ataque às skills dos seus jogadores. Até Nick Saban, um dos catedráticos na posição de treinador, avesso a grandes alterações ao status quo vigente, tem usado o no-huddle de forma a tornar mais confortável a existência do seu novo quarterback Blake Sims. Aquilo que Chip Kelly levou consigo para a NFL e para os Eagles, é agora emulado por quase todos, sem pudor. Na week 1 Alabama conquistou 538 jardas neste sistema. USC, por sua vez, conseguiu 105 jogadas – um número impressionante – jogando da mesma forma. O resultado foi elucidativo: um atropelamento de Fresno State (52-13) e 701 jardas ganhas. A conclusão, não sendo ainda totalmente validada face à fase prematura da temporada, permite perceber que mesmo as universidades mais tradicionais, como as apontadas acima, recorrem cada vez mais a um ataque frenético e simplista, em detrimento do mais apurado pro style. Os espectadores agradecem, presentados com uma catadupa de pontos e jogadas.

O Jogo da Semana

Mais uma vez, é impossível eleger apenas um jogo na semana. Se alguns dos principais candidatos tiveram daqueles desafios desinteressantes, com números obscenos no marcador, há sempre o inverso. Jogos que coloca rivais de divisão frente-a-frente ou outros, com potenciais implicações para o playoff.

USC vs Stanford

Quando Steve Sarkisian trocou a universidade de Washington pela de USC, sabia que entrava numa nova dimensão. O bom trabalho efectuado, entre 2009 e 2013, na capital do país, tinha-lhe granjeado alguns encómios e uma sólida reputação, mas a mudança de ares significava sentar-se num dos tronos mais apetecidos do College.O escrutínio e a pressão seriam totalmente diferentes. USC, vinda de um período negro, marcado pelas sanções impostas pela NCAA, procura o ressurgimento e a hegemonia, que já deteve, na PAC-12. A offseason tinha sido pontuada por uma série de casos graves com jogadores, afastados disciplinarmente da equipa, por questões off the field. Na véspera do inicio da competição, um dos integrantes do corpo de running backs saiu do programa desportivo, apontando o dedo ao head coach e colocando-lhe um rótulo de difícil dissolução: “racista”. Sarkisian, no olho do furacão, sabe que tem como única escapatória vencer. Este fim-de-semana conquistou meritório, difícil e exigente triunfo, derrotando Stanford, um potentado da PAC-12, no seu próprio terreno. Conseguiu o feito com uma defesa agressiva…e muita polémica à mistura. O jogo, que terminou com um 13-10 favorável a USC, teve momentos surreais, entre penalidades absurdas, erros patéticos de Stanford (falhou 6 drives, sem pontuar, quando estava nas 25 jardas do adversário) e queixinhas. Isso mesmo. As câmaras de TV captaram a descida de Pat Haden, director de USC, do camarote até ao campo, depois de ter recebido um sms de Sarkisian, que se queixava do comportamento arbitral. Haden, igualmente um dos 13 membros do comité que elegerá os 4 finalistas da competição, reuniu-se brevemente com os juízes do encontro, após duas situações penalizadoras para USC. Sarkisian, que reclamava sobre um desconto de tempo, foi penalizado com uma flag, por comportamento incorrecto, e consequentes 15 jardas. Logo de seguida,  o linebacker e estrela da defesa Hayes Pullard, foi expulso por um helmet-to-the-head. Foi o suficiente para um rastilho de indignação. Dentro de campo, o herói acabou por ser o kicker de USC, Andre Heidari, que marcou o FG decisivo de 53 jardas. Se a vitória representa bastante para USC, é grandemente penalizadora para Stanford. Os Cardinals tiveram mais jardas do que o adversário (413-291) e uma mão-cheia de oportunidades para pontuarem…não fossem os tiros nos pés. Quais? Apontem. Dois field goals desperdiçados, de 26 e 49 jardas. Um 4-and-1 em que a bola é colocada nas mãos de um freshman, a ter o seu primeiro snap da temporada, com o jogador a não conseguir progredir no terreno. Um snap falhado, quando estavam na red zone, perdendo perto de 25 jardas na recuperação da bola.  E um TD revertido, após um ilegal block.

Michigan State vs Oregon

Num confronto aguardado com enorme expectativa, face à pretensão não escondida de Oregon ao título e à fantástica temporada de 2013 de Michigan State, o espectáculo não defraudou ninguém. Os Ducks (Oregon) venceram por confortáveis 46-27, num resultado que efectivamente não traduz o que se passou em campo. O jogo, intenso e disputado nos limites, foi decidido na 2ª metade. No solo. Foi aí que Oregon encontrou a chave para o triunfo. Na 1ª parte os Ducks foram manietados, conquistando 14 jardas em 13 corridas. No pós-intervalo, tudo se transfigurou, com 160 jardas terrestres e dois touchdowns. Mariota foi precioso neste campo. Sempre pressionado no pocket, o quarterback de Oregon soube dar a dimensão aérea que se pretende num candidato ao título. Sem erros de pormenor, Mariota foi mais comedido na corrida (apenas 42 jardas), preferindo testar a secundária contrária no passe. Um dos grandes candidatos ao Heisman terminou com 328 jardas lançadas, explorando amiúde o fundo do campo. Os seus três passes para TD vieram todos em lançamentos superiores a 15 jardas. Isto revela o crescimento de Mariota, habituado a resolver os problemas com o recurso fácil à corrida. No 3º período, com os Spartans a vencerem por 28-17, num 3-and-11, Mariota tem um número circense, reeditando as proezas de Johnny Manziel. Rodeado de adversários, conseguiu evadir-se a 2 tentativas de sack, mantendo o equilíbrio e, acima de tudo, a perspectiva geral do campo, acabando por endossar a bola a um colega para o celebrado 1st down. Talvez tenha sido aqui o ponto culminante da tarde. Depois disso, sempre que esteve num 3-and-10 (e teve vários, em alturas cruciais), Mariota foi maduro, lendo o jogo, e ferindo com o braço. Destaque nos Ducks para o freshman receiver Devon Allen, com 3 recepções, 110 jardas e 2 TDs. Para os Spartans a derrota é dura, colocando um ponto final numa série de 11 jogos consecutivos a vencer. Os campeões da Big 10, melhor defesa da nação em 2013 e vencedores do Rose Bowl pareceram sempre em condições para discutir o resultado, mas a 2ª metade da partida mostrou que os ajustamentos feitos pela defesa de Oregon resultaram. Os Spartans deixaram de ter jogo corrido (Jeremy Langford correu as suas 86 jardas na 1ª metade) e Connor Cock, até então sensato no pocket, teve duas intercepções.

Michigan vs Notre Dame

Um jogo cheio de história, em séries frenéticas, repletas de episódios anteriores feitos de drama e actos heróicos, de jogadas transcendentes e outras azaradas, conheceu o seu epílogo no Sábado. E que bela maneira de encerrar a rivalidade do que ver Notre Dame a esmagar os Wolverines, por 31-0, resultado histórico e que constitui o primeiro shootout desde 1984.  Com uma defesa intestada (8 caras novas e um coordenador ofensivo com apenas 2 jogos no seu currículo) e o regressado Everett Goldson como quarterback, os Fighting Irish demoliram a pobre OL de Michigan, incomodando o jogo todo Devin Gardner e nunca o deixando desenvolver o seu jogo. As 3 intercepções do QB de Michigan são elucidativas quanto à defesa asfixiante e agressiva de Notre Dame, onde brilhou um insuspeito Joe Schmidt, um linebacker omnipresente em todo o lado, fazendo tackles atrás de tackles. No ataque, Goldson, que esteve dois anos afastado da universidade, deu seguimento ao bom jogo da semana passada, mostrando um braço forte, que penalizou sempre o opositor. 23 em 34, 226 jardas e 3 passes para TD, numa noite para mais tarde recordar. O encontro terminou em clima de festa, que aumentou ainda mais a humilhação de Michigan, com Elijah Shumate a retornar uma INT para um TD de 61 jardas. A apoteose que se seguiu merece ser visualizada.

O Quarterback da Semana

Queria trazer um nome mais glamouroso, daqueles de impacto imediato, facilmente reconhecível. Queria colocar as luzes da ribalta num jogador de uma das grandes potências da modalidade. Mas o College é feito disto. De heróis inesperados, de grandezas momentâneas, de desafios constantes à história. De atletas desconhecidos, vivendo perenes num anonimato que, perante uma demonstração cabal de talento, se estilhaça. A visita de Eastern Washington ao rival distrital Washington parecia apenas mais um clássico, apimentado pela rivalidade. Washington, mais sólida no recrutamento, costuma viver num patamar diferente de classe. Mas Sábado todos os dogmas foram postos em causa, num jogo que foi um verdadeiro thriller, com emoção a rodos, num épico 59-52 favorável a Washington. Mas alguém, no lado oposto, lutou até à exaustão para inverter o rumo dos acontecimentos. Chama-se Vernon Adams Jr, é quarterback em Eastern Washington…e teve o jogo de uma vida. 31/46 no passe, para 475 jardas, número suficiente para abrir a boca de espanto e respeito. Mas não acabou aqui. Adams fez os lançamentos todos. Rotas curtas e intermédias, bombas para o fundo do campo, em janelas de oportunidade ridiculamente pequenas, colocando sempre a bola em condições de ser recebida. Foram 7 touchdowns. Sete. Saiu derrotado, num braço-de-ferro contra o opositor, mas captou a atenção. Muitas vezes é isso que basta.

Menção Honrosa da Semana

Com a saída do conceituado Tahj Boyd para a NFL, Clemson teve que reconstruir a posição de quarterback, numa daquelas habituais dores de cabeça comuns a todos os programas desportivos. A offseason e os trabalhos de preparação servem para criar a competição interna e, com ela, aclarar o futuro quanto ao titular do posto. Clemson decidiu-se por Cole Stoudt mas o jogo inaugural e o correctivo sofrido às mãos de Georgia criaram a primeira onda de polémica. E pressão. Cole Stoudt manteve-se a titular, nesta week 2, contra a frágil South Carolina State (dizimados por esclarecedores 73-7), mas quem deu nas vistas foi o pretendente ao posto, o freshman Deshaun Watson. O miúdo, que já tinha deixado boas indicações nos treinos,  jogou um período, terminando com um quase perfeito 8/9 no passe, 154 jardas lançadas e 3 passes para TD. Stoudt iniciará a 3ª semana ainda inamovível da posição, mas claramente pressionado pelo rookie. E é bem provável que num futuro a curto prazo a posição passe a ser de Watson.

O Running Back da Semana

Não, não trago números impressionantes, daqueles que imitam os videojogos, na vida real. Podia. O que não faltou, nos jogos de Sábado, foram running backs com jardas corridas acima da média (DJ Foster, de Arizona State, amealhou 216 no solo e 54 na recepção), ou um somatório de TDs para fazer inveja a qualquer um (Paul James, de Rutgers, marcou 3, dois corridos e um na recepção) ou verdadeiros monstros de trabalho (como James Conner, de Pitt, com desgastantes 36 corridas). Mas, quem sobressaiu, fê-lo pela importância do momento, pelo factor decisivo. Ameer Abdullah entrou na época de 2014 cotado como um dos melhores running backs da competição. Provou o porquê, quando Nebraska sofria em casa o risco de um upset tremendo. McNesse State tinha empatado a contenda. Faltavam 30 segundos para o final do jogo e o espectro de um prolongamento pairava no estádio. Nebraska procurava progredir no terreno, de forma segura, para chegar a posição de um field goal certeiro. Ameer saiu do backfield e recebeu um passe, suficiente para novo first down. Mas o jogador foi quebrando tackles, no limite do impossível, enquanto corria para a end zone. O lance memorável, de 58 jardas, valeu o triunfo e uma celebração colectiva condizente. É para momentos destes que servem os grandes jogadores. Ameer Abdullah é um deles. Decorem-lhe o nome.

O Wide Receiver da Semana

Pode parecer estranho considerar Amari Cooper como o receiver da semana, sobretudo devido à fragilidade do adversário que calhou em sorte a Alabama. Florida Atlantic não é um peso-pesado na competição e a copiosa derrota a que foram submetidos (41-0) é ilustrativa do seu valor. Mas Cooper é um daqueles jogadores que produz, independentemente do nome do adversário. Ágil, versátil e empolgante, é claramente um dos mais excitantes prospects da actualidade. Neste Sábado Cooper deliciou os espectadores com mais 13 recepções, 189 jardas e um TD, com uma jogada a sobressair, no meio das outras: a sua conclusão, de 52 jardas, a um passe de Blake Sims. Na temporada Cooper leva já 25 recepções (em apenas 2 jogos) e 319 jardas.

Menção Honrosa da Semana 1

Mantenham o olho em Baylor e no novo fenómeno da equipa: o freshman KD Cannon. Mais uma vez  fragilidade do opositor permitiu números inflacionados, mas 6 recepções, 223 jardas (uma média de 37,2 por recepção) e 3 scores merecem sempre ser elogiados. Cannon ainda é imaturo, em pleno processo de aprendizagem, mas é a deep threat que a equipa ansiava.

Menção Honrosa da Semana 2

Travin Dural já tinha dado nas vistas na vitória sofrida de LSU sobre Winconsin, na week 1. Desta feita, perante Sam Houston State, foi mais longe. 3 recepções, 140 jardas…e 3 touchdowns. Cada toque seu na bola correspondeu a um touchdown. Impressionante.

O Jogador Revelação da Semana

Andei encantado, no ano passado, por Paul Richardson, o ultra-veloz receiver de Colorado, agora com lugar cativo no roster dos Seahawks. A universidade não ultrapassa os limites mínimos associados à mediania, quando falamos do programa desportivo. Mas a qualidade e talento de Richardson valiam bem a pena. Sábados à tarde eram dedicados aos Buffaloes. Só para o ver. A sua saída não criou, como também é norma, nenhuma orfandade no seio do grupo. A constante entrada de sangue novo, no sempre competitivo mundo do futebol universitário, não permite o carpir de mágoas por aqueles que partira. O fluxo de novos jogadores, sequiosos por aparecerem, supre sempre – ou quase – as ausências. Colorado já tem o seunovo wide receiver. E que jogador, meus senhores. Nelson Spruce é ainda – por pouco tempo – um segredo bem guardado. Já lá estava, no ano passado. Resguardado. O agora junior tem 6’1’’ de altura, com características diferentes da de Richardson. É mais um possession receiver, não deixando no entanto de fazer mossa com a sua velocidade. Contra Massachusetss, num apertado triunfo por 41-38, fez toda a diferença. Mais 10 recepções, 145 jardas e 2 touchdowns, elevando para 4 o seu total esta época. Dois jogos, 249 jardas no total. 17 recepções. Breakout year em perspectiva!

About The Author

Paulo Pereira

O meu epitáfio, um dia mais tarde, poderá dizer: “aqui jaz Paulo Pereira, junkie em futebol americano”. A realidade é mesmo essa. Sou viciado. Renascido em 2008, quando por mero acaso apanhei o Super Bowl dos Steelers/Cardinals, fiz um reset em [quase] todos os meus dogmas. Aquele desporto estranho, jogado de capacete, entranhou-se no meu ADN, assumindo-se como parte integrante da minha personalidade. Adepto dos Vikings por gostar, simplesmente, de jogadores que desafiam os limites. Brett Favre entra nessa categoria: A de MITO.